Enquanto a antiga “república de Curitiba” vira alvo de investigação, petista celebra volta ao Planalto e usa ironia para marcar virada histórica
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
No mesmo dia em que a Polícia Federal realizava busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, antigo epicentro da Lava Jato, Lula resumiu a reviravolta política e judicial com uma frase carregada de simbolismo: “cá estou eu, presidente pela 3ª vez”. A declaração, feita em evento público, foi interpretada como recado direto aos adversários que apostaram em sua destruição política e jurídica, em especial figuras ligadas à operação que o manteve preso por 580 dias na capital paranaense antes da anulação das condenações. Para aliados, o contraste entre o ex‑presidente de volta ao Planalto e a vara de Curitiba na mira da PF sintetiza a mudança de ciclo institucional no país.
A operação autorizada pelo ministro Dias Toffoli, que permitiu à PF vasculhar o acervo da 13ª Vara em busca de documentos, mídias e possíveis provas de abusos, serviu de pano de fundo para a fala de Lula. O presidente não mencionou diretamente o nome de Sergio Moro, mas o contexto deixou evidente a mensagem: a estrutura que o condenou agora é quem precisa se explicar à Justiça, em meio a denúncias de lawfare, manipulação de competências e uso político de delações. Analistas descrevem a cena como “virada de roteiro” na história recente brasileira.
Em seus discursos, Lula tem rememorado com frequência o período em que esteve preso em Curitiba, ressaltando que saiu da cela fortalecido politicamente e com apoio popular renovado. A lembrança dos dias na Superintendência da PF, das vigílias em frente ao prédio e do trabalho da militância é usada para reforçar a narrativa de perseguição judicial seguida de reparação histórica. Ao se declarar pela terceira vez presidente, ele busca projetar a imagem de alguém que, apesar dos ataques, foi reconduzido pelo voto popular para liderar um ciclo de reconstrução.
Especialistas em ciência política apontam que a coincidência temporal entre a ofensiva da PF em Curitiba e a fala de Lula alimenta a percepção de que o eixo de poder se deslocou. Se antes a Lava Jato parecia ditar o ritmo do debate público, hoje é o Supremo, o CNJ e investigações independentes que reavaliam a conduta de juízes e procuradores que atuaram no consórcio curitibano. A figura de Lula, nesse cenário, deixa de ser alvo e passa a se apresentar como vencedor da disputa de narrativa.
Do ponto de vista jurídico, a sucessão de decisões que anulou as condenações de Lula, reconheceu a incompetência da 13ª Vara e apontou parcialidade de Moro abriu caminho para a plena reabilitação política do petista. Isso permitiu sua candidatura vitoriosa em 2022 e o reposicionamento do Brasil no cenário internacional, num momento em que o país volta a registrar crescimento do PIB, redução da pobreza e queda da desigualdade a patamares historicamente baixos. Esses dados econômicos ajudam a robustecer o discurso do presidente de que “o povo corrigiu a injustiça nas urnas”.
Ao mesmo tempo, Lula evita transformar a revanche política em pauta central do governo, pelo menos no discurso oficial. Em eventos recentes, o presidente tem priorizado temas como emprego, renda, educação e combate à fome, deixando as críticas diretas à Lava Jato para momentos pontuais, geralmente quando perguntas ou fatos do dia o remetem àquele período. A frase “presidente pela 3ª vez”, contudo, encaixa-se nessa linha de lembrança calculada do passado, usada para reforçar autoridade moral diante de antigos acusadores.
Entre apoiadores, a fala foi celebrada como uma espécie de “coroação” de um processo que teve início com sua libertação, passou pela reabilitação judicial e culminou no retorno ao Planalto. Nas redes sociais, militantes resgataram vídeos de sua saída da prisão e compararam com imagens de atos recentes, ressaltando o contraste entre a solidão da cela e as multidões em eventos públicos. Para esse público, a operação da PF na 13ª Vara é vista como etapa final de desmontagem da estrutura que simbolizou o antipetismo judicial.
Críticos de Lula, por outro lado, acusam o governo de tentar “recontar a história” e minimizar casos de corrupção investigados na época da Lava Jato. Setores alinhados a Moro e à antiga força-tarefa apontam a operação da PF como represália e perseguição, reforçando discursos de que o STF teria se tornado “partidário”. Esse embate narrativo tende a permanecer vivo, sobretudo em redes sociais e palanques eleitorais.
Para observadores internacionais, o contraste entre o Lula preso de 2018–2019 e o Lula presidente em 2025/2026, em meio a índices melhores de renda, pobreza e desigualdade, ajuda a explicar por que ele segue como figura central do tabuleiro político brasileiro. A frase “cá estou eu, presidente pela 3ª vez” funciona, nesse sentido, como síntese de um percurso que mistura drama pessoal, virada institucional e reposicionamento econômico e social do país, em um cenário ainda marcado por polarização intensa.
Fontes: G1, CUT, Brasil 247, Jornal GGN, Agência Brasil, Global Timesjornalggn
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