Presidente busca aliviar sobretaxas, defender exportadores brasileiros e vincular cooperação em segurança a estratégias modernas
Donald Trump e Lula (Andrew Harnik/Getty Images)
Donald Trump e Lula (Andrew Harnik/Getty Images)
Lula tem usado encontros e declarações públicas para sinalizar que trabalha pelo fim do “tarifaço” aplicado pelos Estados Unidos a produtos brasileiros durante a gestão de Donald Trump, ao mesmo tempo em que defende uma agenda conjunta de combate ao crime “com inteligência”. Segundo relatos de bastidores e matérias da imprensa internacional, o presidente brasileiro aproveitou recentes conversas com Trump para cobrar postura menos agressiva em relação às exportações do Brasil e propor cooperação focada em tecnologia, investigação financeira e combate a redes transnacionais de ilícitos.
Em declarações recentes, Lula enfatizou que o Brasil não aceita ser tratado como “adversário comercial” e que sobretaxas unilaterais prejudicam tanto produtores brasileiros quanto cadeias globais que dependem de insumos nacionais. O presidente tem argumentado que, em lugar de guerras tarifárias, é melhor fortalecer acordos bilaterais e mecanismos multilaterais para resolver disputas de forma previsível, preservando empregos e investimentos. Para o governo, o tarifaço distorce a concorrência e penaliza países emergentes que buscam agregar valor às suas exportações.
No campo da segurança, Lula afirma que pediu diretamente a Trump e a autoridades norte-americanas que o combate ao crime organizado, ao tráfico de armas e ao fluxo de dinheiro sujo seja feito com base em inteligência, cooperação entre polícias e compartilhamento de dados, e não apenas com ações espetaculosas ou militarização de fronteiras. A ideia é priorizar investigações de alto nível, uso de tecnologia, rastreamento de fluxos financeiros e operações cirúrgicas contra grandes estruturas criminosas. Essa abordagem, segundo especialistas, é mais eficaz e menos danosa para comunidades vulneráveis.
Analistas de comércio exterior destacam que o Brasil, ao mesmo tempo em que pressiona pela redução das tarifas norte-americanas, intensifica sua estratégia de diversificar mercados com acordos no âmbito do Mercosul, dos BRICS e com países do Sul Global. Essa postura amplia o poder de barganha brasileiro nas mesas de negociação, reduzindo dependência de um único parceiro e permitindo que o país resista melhor a decisões unilaterais de Washington.
A aproximação pontual com Trump, marcada por elogios públicos e sinalizações de “boa química” entre os dois líderes, é lida por parte da imprensa estrangeira como uma tentativa mútua de baixar a temperatura retórica sem abrir mão dos respectivos projetos políticos internos. Para Lula, o desafio é manter a coerência com o discurso em defesa da democracia e do multilateralismo, ao mesmo tempo em que dialoga com um líder que simboliza o oposto em muitos desses temas.
Setores do agronegócio, da siderurgia e da indústria de transformação acompanham de perto a agenda, já que foram diretamente atingidos pelo tarifaço em anos anteriores. Entidades empresariais defendem que o governo mantenha postura firme, mas pragmática, para recuperar competitividade no mercado norte-americano sem comprometer relações com outros parceiros estratégicos.
No plano doméstico, opositores tentam minimizar o alcance das conversas com Trump, acusando Lula de buscar proximidade apenas por cálculo eleitoral e de não conseguir resultados concretos em termos de retirada de tarifas. Já aliados afirmam que o reposicionamento do Brasil na política externa tem recuperado credibilidade e espaço de voz em fóruns internacionais, o que fortalece o país em qualquer tipo de negociação, inclusive comercial.
Especialistas em relações internacionais avaliam que o desfecho das tratativas tarifárias e de cooperação em segurança dependerá tanto da conjuntura política nos EUA quanto da capacidade do Brasil de manter uma estratégia consistente, baseada em dados e interesses de longo prazo. Se bem-sucedida, a combinação entre fim do tarifaço e parcerias em inteligência contra o crime pode reforçar a imagem do país como ator confiável, moderno e central nas redes de comércio e segurança globais.
Fontes: Bloomberg, Agência Brasil, BBC Brasil, The New York Timesbbc
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