Movimento expõe racha interno e revela influência direta de Bolsonaro nas articulações regionais
Michelle Bolsonaro ao lado do senador Eduardo Girão (Novo-CE), em evento de lançamento da pré-candidatura dele ao governo do Ceará, realizado em Fortaleza no domingo, 30 (Redes sociais/Reprodução)
A crise interna no Partido Liberal ganhou novos contornos após Michelle Bolsonaro criticar a aproximação da sigla com Ciro Gomes no Ceará. A ex-primeira-dama, cada vez mais influente entre lideranças bolsonaristas, manifestou descontentamento com o que classificou como “aliança imprudente”. A reação pública expôs fissuras dentro do partido e acendeu alertas sobre o impacto eleitoral da movimentação, justamente em um estado onde o PL busca ampliar presença e consolidar palanques para 2026.
O estopim foi a articulação de dirigentes estaduais que costuraram um acordo com Ciro Gomes visando fortalecer candidaturas locais. Segundo aliados de Michelle, ela considerou o movimento incoerente com os valores defendidos pelo bolsonarismo. A crítica gerou incômodo imediato entre lideranças do PL, que se viram pressionadas a justificar a decisão. Nos bastidores, a leitura é que Michelle tenta se firmar como guardiã da “identidade ideológica” do grupo.
A polêmica cresceu após o líder do PL no Ceará afirmar que o movimento teria ocorrido com o aval do próprio Jair Bolsonaro. A declaração surpreendeu setores internos e aumentou ainda mais a confusão, já que a informação contradiz a manifestação contundente de Michelle. A divergência expôs um cenário em que diferentes atores reivindicam proximidade com Bolsonaro, criando disputas narrativas que desgastam a unidade do partido.
Aliados próximos ao ex-presidente confirmam que ele foi consultado sobre a articulação, mas não teria dado aval explícito. Mesmo assim, o líder regional sustentou publicamente que a operação estava “em linha” com Bolsonaro, tentando blindar o movimento contra críticas internas. Essa postura provocou mal-estar adicional, já que o bolsonarismo costuma exigir alinhamento total da base a qualquer orientação atribuída ao ex-presidente.
Internamente, dirigentes do PL reconhecem que há medo de desgaste com o eleitorado mais fiel de Bolsonaro, que tende a seguir as posições políticas de Michelle. Por isso, líderes têm buscado minimizar a polêmica, alegando que a aproximação com Ciro teria objetivos puramente estratégicos. Ainda assim, a base bolsonarista reagiu negativamente nas redes sociais, acusando o PL de “traição” e exigindo esclarecimentos.
Analistas políticos avaliam que o episódio revela fragilidade na condução do partido e dificuldade crescente de conciliar interesses regionais com a rigidez ideológica do bolsonarismo. A influência crescente de Michelle também alimenta tensões, já que parte da sigla teme uma “dupla liderança” dividindo autoridade — Bolsonaro de um lado, Michelle de outro. Esse dilema se intensifica em estados onde a legenda ainda tenta firmar identidade própria.
O caso deve ter repercussão direta na formação de alianças para 2026, uma vez que demonstra a dificuldade do PL em atuar de forma pragmática sem sofrer retaliações internas. Em estados como o Ceará, onde Ciro mantém capital político, a sigla tenta construir palanques competitivos, mas esbarra no veto simbólico do bolsonarismo. Isso pode reduzir a capacidade do partido de ampliar bases no Nordeste, região historicamente leal ao presidente Lula.
Por ora, a direção nacional do PL tenta adotar postura conciliadora, mas a crise expõe que a legenda enfrenta conflitos reais entre pragmatismo político e fidelidade ideológica. A intervenção de Michelle reforça que ela pretende assumir papel protagonista, enquanto aliados disputam espaços de influência ao reivindicar proximidade com Bolsonaro. O episódio abre um novo capítulo na batalha interna que promete marcar o ciclo eleitoral que se aproxima.
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