Material pode reforçar acusações de Tony Garcia e ampliar desgaste de Moro após operação em berço da Lava Jato
Justiça Federal do Paraná — Foto: Reprodução/RPC
A Polícia Federal localizou uma caixa amarela com arquivos relacionados à chamada “festa da cueca” durante diligências na 13ª Vara Federal de Curitiba, antigo epicentro da Lava Jato. Fontes ligadas ao tribunal afirmam que o material estava em área de arquivo pouco acessada e teria relação com reuniões e movimentações informais que, há anos, cercam as acusações de bastidores sobre condução política de processos. A existência dessa caixa já havia sido mencionada por pessoas próximas a delatores, mas nunca tinha sido formalmente confirmada em relatórios oficiais. Agora, passa a integrar o conjunto de documentos sob análise pericial.
Segundo relatos de servidores ouvidos reservadamente, o conteúdo da caixa inclui mídias digitais, anotações, cópias de despachos, rascunhos e impressos que podem ajudar a reconstituir a rotina de interação entre magistrados, procuradores e colaboradores em momentos-chave da operação. A expressão “festa da cueca” é usada para descrever episódios simbólicos de celebração e suposto deboche com prisões e delações, o que, se comprovado, reforçaria a tese de abuso de poder e desvio de finalidade. A PF trabalha para cruzar datas, participantes e contextos dos documentos encontrados.
Para Tony Garcia, delator ligado ao caso Banestado, a descoberta tende a fortalecer suas alegações de que a Lava Jato extrapolou limites legais e pressionou investigados com métodos heterodoxos. Ele sustenta que sua colaboração foi transformada em instrumento de perseguição e chantagem, incluindo exigências de gravações clandestinas de autoridades e políticos. A eventual comprovação documental de práticas informais e comemorativas poderia ser usada para demonstrar ambiente de parcialidade e militância dentro da estrutura judiciária de Curitiba.
Juristas avaliam que a caixa amarela pode se tornar peça central em futuros pedidos de revisão criminal e ações de responsabilização de agentes públicos. Se os registros apontarem para coordenação indevida entre acusação e juízo, ou para tratamento seletivo de determinados alvos, aumentam as chances de anulação de processos e de pedidos de indenização por danos morais. Também ganha força a narrativa de que a operação foi usada como instrumento político.
A descoberta ocorre num momento de intensa revisão histórica da Lava Jato, com o STF e o CNJ analisando condutas de juízes e procuradores e a própria 13ª Vara sob escrutínio de correições extraordinárias. Em meio a esse cenário, cada novo documento que revele bastidores da operação passa a ter peso político e jurídico desproporcional. A caixa da “festa da cueca” se encaixa nesse contexto de reabertura de feridas e de disputa pela versão final da história.
Aliados de Sergio Moro minimizam o episódio e dizem que se trata apenas de material administrativo, sem relevância probatória. Para eles, há tentativa de transformar qualquer detalhe em prova de má-fé para alimentar uma narrativa de perseguição à Lava Jato. Já críticos do ex-juiz veem na resistência em abrir totalmente os arquivos um sinal de que ainda há muito a ser exposto.
A PF, por sua vez, mantém silêncio sobre o conteúdo específico dos documentos, alegando sigilo de investigação. A expectativa é que relatórios técnicos sobre o material da caixa sejam enviados ao STF e ao Ministério Público Federal nas próximas semanas. Dependendo das conclusões, novas diligências e oitivas de ex-integrantes da força-tarefa poderão ser determinadas.
Enquanto isso, a opinião pública acompanha dividida: parte ainda enxerga a Lava Jato como símbolo de combate à corrupção, enquanto outra vê na sequência de revelações a confirmação de que houve lawfare e manipulação de processos para fins políticos. A caixa amarela com arquivos da “festa da cueca” se torna, assim, mais um ícone na batalha de narrativas sobre o período.
Fontes: Brasil 247, Migalhas, Jornal GGN, Empório do Direito
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