De Joio e Cicatriz Social à Esperança Cautelosa: O Acerto de Contas da Democracia Contra o Deboche e a Tortura da Miséria
Por: Fátima Miranda
Assistimos a quatro anos de um desgoverno que não apenas falhou em suas obrigações, mas que transformou o sofrimento social em uma política de Estado. Não foi apenas incompetência; foi uma tortura social lenta e debochada, transmitida ao vivo em lives semanais e discursos raivosos. Como esquecer o espetáculo macabro da pandemia?
A imagem de um chefe de Estado zombando de pessoas sem ar, promovendo a aglomeração e vendendo ilusões tóxicas em forma de cloroquina é uma cicatriz indelével na alma coletiva. Em plena crise sanitária, enquanto famílias enterravam seus mortos em caixões fechados, o negacionismo era a bandeira oficial. O deboche contra a ciência, a desconsideração por cada evidência, a arrogância em rejeitar vacinas salvadoras – tudo isso não foi um erro de cálculo, mas sim uma ideologia do descaso.
A dor era palpável. Era a dor da mãe que perdia o filho por falta de oxigênio em Manaus, a dor do pai de família que se humilhava em filas de desemprego, a dor do profissional de saúde exausto e desmoralizado. A nação chorava não só seus mortos, mas a ausência de humanidade no comando.
O sofrimento do brasileiro não se limitou à COVID-19. Vimos a fome, com asas largas e vorazes, voltar a rondar lares que mal haviam se reerguido. O desemprego estrutural, a inflação que corroía o poder de compra e o desmonte das políticas sociais empurraram milhões para a angústia e a miséria. E a resposta do poder? Um silêncio ensurdecedor, que apenas era quebrado para insultar jornalistas, atacar minorias ou minar as instituições.
O mais assustador de tudo era a sensação de que essa agonia seria eterna. Os sinais de que o ex-presidente planejava se perpetuar no poder, insuflar a violência e descreditar o sistema eleitoral eram diários. A nação estava angustiada, sem esperança de dias melhores, refém de um governo que parecia disposto a incendiar o templo da democracia para se manter aquecido. Um empregado do povo que tratava o povo como subalterno, que ameaçava o Brasil e seu povo soberano diotunamente com suas palavras eivadas de ódio e certeza da impunidade.
É justamente por termos vivido este inferno que a notícia da iminente prisão de Bolsonaro é carregada de um significado que transcende o jurídico. É a vitória simbólica de todos aqueles que sofreram: o profissional da saúde que viu o corpo de seu colega ceder à exaustão; o cientista que teve sua pesquisa ridicularizada; o faminto que buscou ossos em lixões; a viúva da pandemia que se viu sozinha.
A nossa democracia, combalida e ferida, mas ainda prevalecente, deu a resposta final. Ela respirou fundo, suportou o tranco, e agora, pelo instrumento do Estado de Direito, cobra a fatura. Não se trata de vingança, mas de justiça tardia. É o momento em que a lei, finalmente, afirma que ninguém está acima dela – nem mesmo um ex-presidente que se pensou acima de tudo.
Que o sol que agora brilha sobre a Papudinha não seja o sol do escárnio, mas o sol da redistribuição da responsabilidade. O sofrimento foi coletivo; a responsabilização deve ser individual. Este é o momento em que o Brasil pode, finalmente, começar a respirar aliviado, virando a página mais sombria de sua história recente, sabendo que a teimosia das urnas e a resiliência das instituições garantiram que a Justiça fosse feita. É o triunfo da esperança sobre o deboche, e da lei sobre a barbárie.
O Sol da Justiça brilhou. E ele não usa cloroquina.
ATUALIZAÇÃO:
22 de novembro de 2025, dia Memorável!
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